O senador falou à Polícia Federal sobre um suposto plano de gravar conversas do ministro Alexandre de Moraes proposto a ele pelo ex-presidente Jair Bolsonaro
Após quase 5 horas depondo em inquérito que investiga uma suposta trama golpista para grampear o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, o senador Marcos do Val (Podemos-ES) deixou a sede da Polícia Federal (PF), na noite desta quarta-feira (19), em Brasília. Ele saiu sem falar com a imprensa.
O parlamentar foi intimado no inquérito para explicar as diferentes versões em que acusa o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-deputado Daniel Silveira de arquitetarem um plano para invalidar as eleições presidenciais de 2022.
Marcos do Val apresentou pelo menos quatro versões diferentes desde que começou a falar sobre o plano. A primeira delas foi em entrevista à revista Veja, em fevereiro. O parlamentar disse que havia alertado Moraes sobre uma trama para grampear as mensagens e ligações do ministro. A ideia, segundo o senador, seria utilizar os registros para incriminar o magistrado e revogar a vitória do presidente Lula (PT) nas eleições.
Em todas as declarações sobre o episódio, o parlamentar menciona que o ex-presidente e o deputado cassado Daniel Silveira. No entanto, o grau de participação dos dois acusados vai mudando de acordo com cada versão.
Em um debate com o Movimento Brasil Livre (MBL), Do Val chegou a dizer que Bolsonaro tentou coagi-lo a participar de um golpe de estado. Depois, na GloboNews, negou a informação. Em gravações obtidas pela revista Veja, o senador alega que o ex-presidente da República chegou a liberar equipamentos do Gabinete de Segurança Institucional (SGI) para ajudar no plano.
“Disse sim. Que o GSI ia me dar o equipamento para poder montar para gravar. Aí eu falei assim, quando eu falei que ‘mas não vai ser aceito’. ‘Não, o GSI já tá avisado’. Quer dizer, já tinha validado a fala comigo. ‘Eles vão te equipar, botar o equipamento de escuta, de gravação, e a sua missão é marcar com o Alexandre e conduzir o assunto até a hora que ele falar que ele, que ele avançou, extrapolou a Constituição, alguma coisa nesse sentido.’ Aí ele falou ‘ó, eu derrubo, eu anulo a eleição, o Lula não toma posse, eu continuo na Presidência e prendo o Alexandre de Moraes por conta da fala dele, que ele teria’”, afirmou no áudio.
Mais tarde, contudo, o senador mudou de novo o conteúdo dos fatos ao contar a história. Disse que Bolsonaro ficou calado durante toda a reunião. Segundo ele, seria Daniel Silveira, que está preso, o único responsável pela criação do plano golpista, e que ex-presidente acompanhou a conversa em silêncio.
Na última quarta-feira (12), Bolsonaro esteve na Polícia Federal para falar aos investigadores sobre o caso. No depoimento, ele confirmou a reunião com Do Val e Silveira, mas negou qualquer plano contra Moraes e definiu o plano denunciado por Do Val como “coisa de maluco”. E garantiu que nunca tratou de equipamentos de escuta ou gravação na conversa que teve com o senador e o ex-deputado.